Instituto Pensar - Ex-funcionários do Ibama denunciam desmonte da fiscalização ambiental

Ex-funcionários do Ibama denunciam desmonte da fiscalização ambiental

por: Eduardo Pinheiro 


De acordo com depoimentos ao Ministério Público Federal, o Ibama vem sofrendo pressões de Bolsonaro e de Salles para desmontar a fiscalização ambiental

Foto: Lula Marques

Em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), o ex-Coordenação Geral de Fiscalização Ambiental do Ibama, Rene Luiz de Oliveira, afirmou que as pressões públicas do presidente Jair Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre a fiscalização ambiental do Ibama provocaram a redução das atividades de controle.

Demitidos após os atritos com o governo federal, Rene e seu subordinado no órgão, Hugo Loss, descreveram com detalhes as pressões do governo Bolsonaro para desmontar a fiscalização ambiental. Relatos também demonstram indícios de interferências indevidas do presidente.

As 13 páginas do depoimento conjunto, enviadas à justiça Federal e obtidas pelo GLOBO, afirmam que a gestão Salles nomeou pessoas sem perfil de fiscalização para atuar nas divisões técnico-ambientais das superintendências estaduais do Ibama e deixou cargos em aberto, apenas com nomes interinos, o que foi sucateando a atividade ao longo do ano de 2019. 

Os ex-coordenadores ainda citaram o episódio em que o presidente gravou um vídeo com o senador Marcos Rogério (PDT-RO) fazendo críticas a uma ação de fiscalização do Ibama em Rondônia que destruiu maquinário usado no desmatamento, prática prevista em lei. No registro, Bolsonaro afirma que Salles determinou a abertura de processo administrativo para apurar o assunto e disse que a orientação do governo não era destruir maquinário.

Funcionários temem represália de Bolsonaro

Após o vídeo, publicado em abril de 2019, funcionários do Ibama paralisaram ações de destruição de maquinário nos meses seguintes, temendo represália das autoridades, segundo Hugo Loss. De acordo com Rene, as declarações públicas de Bolsonaro e de Salles repercutiram muito dentro do Ibama:

"Existem três formas de uma força ser aniquilada. A primeira é tirar dinheiro. A segunda é desestruturar de alguma forma, como não nomear cargos estratégicos ou nomear gente sem afinidade com a causa. A terceira é gerar constrangimento, fazer baixar a guarda de quem tá na linha de frente, no caso os fiscais. As declarações das autoridades criaram uma força antagônica que causa medo ou insatisfação, levando a um estágio de baixa autoestima e consequente baixa na produtividade”.

Outra ação citada por Loss, responsável na ponta por comandar operações, ocorreu em abril deste ano. Trata-se da ação de combate ao desmatamento nas terras indígenas ItunaItatá, Apyterewa e Trincheira Ba-cajá, localizadas no Pará, quando houve movimentação de personagens investigados por envolvimento nesse desmatamento junto à Presidência da República e teve início uma pressão contrária à ação.

Loss afirma que a equipe envolvida na operação "começou a receber questionamentos”, sem citar de quem partia essa pressão. Após essa ação, o governo acabou exonerando o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Olivaldi Azevedo. 



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